O ato alimentar envolve todo o nutricional e biológico que se sabe, mas também um lado social e histórico muito importante. Comer envolve atitudes ligadas aos usos, costumes, às condutas e situações, e foi esta, aliás, a origem da socialização. Neste sentido, o que se come é tão importante quanto quando se come, onde se come, como se come e com quem se come. É este cruzamento entre historia, ciência, gastronomia, e ainda o social, o político, o tecnológico e o econômico, o objeto de estudo da História e Cultura da Alimentação.


Os hábitos alimentares refletem e acompanham a evolução social. Através do alimento (fonte de informações preciosas), podemos identificar uma sociedade, uma cultura, uma religião, um estilo de vida, uma classe social, um acontecimento ou mesmo uma época. Desta forma, o estudo desta relação “meio x sociedade x hábitos alimentares”, tendo o passado como espelho, contribui de maneira substancial para que possam surgir respostas a inúmeros questionamentos e propostas que solucionem males da atualidade. Ou seja, neste domínio a História oferece não apenas a compreensão de hábitos do passado, mas o esclarecimento de alguns males contemporâneos, como a obesidade, por exemplo.


Ao observarmos a cozinha do mundo atual, torna-se nítida a influência da evolução social na alimentação humana. Vivemos hoje a era da cozinha compartimentada e individualista, onde o gosto que prevalece (se é que ele existe) é pasteurizado e homogêneo, sem graça. As maiores expressões simbólicas desta cozinha e desta época são o hambúrguer e a coca cola. A verdade é que não apenas a cozinha, mas o mundo viveu um processo de McDonaldização, e isto nada mais é que o resultado das transformações trazidas pela globalização e pelo ritmo de vida moderno.


Nas últimas décadas, o tempo se tornou um bem cada vez mais raro e escasso e, face a esta nova sociedade do trabalho e da pressa, transformaram-se também os hábitos alimentares. As redes de fast food invadiram as cidades, as refeições rápidas se impuseram e a saúde e a qualidade de vida foram deixadas de lado. A humanidade se alimenta mal, quanto mais rápidas as refeições, melhor. É como se hoje as pessoas tivessem deixado de lado toda a parte social que o ato de alimentar-se tem. Comem apressadamente: nas ruas, nos carros, no trabalho, em frente à TV; comem por comer; comem sem ao menos perceber o que estão ingerindo, é o fast food, a alimentação rápida. Nesse contexto cabe uma citação do Carl Honoré: “Hoje, a maioria das refeições é pouco mais que a parada de reabastecimento no pit stop”. Os parâmetros e os padrões alimentares mudaram, e hoje são muito menos satisfatórios ao paladar e ao aporte nutritivo em relação ao que eram anteriormente, ou seja, a pós-modernidade trouxe um novo ritmo, novos costumes e práticas de consumo alimentar que afetaram diretamente (e, neste caso, negativamente) a qualidade de vida e o bem-estar da população.


A questão é que o ritmo acelerado de vida e, consequentemente, as refeições rápidas, normalmente não são opções, trata-se de uma imposição social. O tempo médio destas refeições é de, em média, 11 minutos, uma ameaça ao organismo de qualquer ser humano e, principalmente, à qualquer resquício de sociabilidade ou de prazer durante as mesmas. Uma refeição, ainda que seja rápida, deve ser muito mais saudável e prazerosa que um mero “reabastecimento” para repor as energias, e é importante sublinhar que esta possibilidade existe.


As próprias redes de fast-food já estão investindo em ambientes mais aconchegantes e já oferecem opções mais saudáveis para tentar segurar o consumidor mais esclarecido. O ideal ainda está longe destas pequenas mudanças e destes estabelecimentos, mas este pode e deve ser o início de grandes melhorias. Outros estabelecimentos, aliás, já mais adeptos deste ideal, propõem refeições ao mesmo tempo rápidas (mas não relâmpago), mas ao mesmo tempo saudáveis e (acreditem!) prazerosas. O mais interessante é que estas últimas também servem sanduíches, se este for o caso, mas para isto utilizam ingredientes muito mais frescos, saudáveis e, sobretudo, saborosos.


Como dizíamos há pouco, o importante não é apenas comermos, mas sim comermos em um ambiente tranquilo, com uma companhia agradável, e numa “fração de minutos” digna, digamos assim. O importante é que saibamos que a alimentação nutre não apenas o corpo, mas sim emocionalmente o ser humano. Uma refeição tranquila e bem aproveitada pode trazer benefícios sem igual. Aliás, muito prazer e qualidade de vida… dependem de cada um de nós…


Por Giana Cristina Coro
Nutrição – Universidade Federal do Paraná
Administração de Empresas – Fae Business School
Master em Historia e Cultura da Alimentação – IEHCA (Instituto Europeu de Historia e Cultura da Alimentação)